terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Por razões industriais, quando escrevi esta coluna ainda não tivera desfecho o rumoroso caso do projeto do Governo do Estado de flexibilizar as normas para licenciamento ambiental. O Estado sinalizava recuo, disse que faria alterações. Mas, no momento em que escrevo, o resultado é incerto.

Mas calma aí, leitor camarada. Não largue este texto agora. Você deve, com razão, se perguntar o porquê de continuar a ler algo escrito por alguém que,

quando da feitura do texto, estava menos informado sobre o assunto do que você possivelmente está agora.


Mas não é do projeto em si que vou tratar aqui. Não de seu desfecho para o meio ambiente no Ceará, seja lá qual tenha sido. Tratarei, sim, das preocupantes sinalizações dessa iniciativa para o futuro da gestão estadual na área de meio ambiente.


Na época em que começou a se desenrolar a polêmica sobre a instalação de um estaleiro na praia do Titanzinho, em Fortaleza, os cinemas exibiam o filme Avatar. Era por volta de janeiro do ano passado. E o governador Cid Gomes (PSB), mais importante defensor do projeto, foi ao cinema ver o filme. Saiu incomodado,
admitiu à época.


Cid disse que se sentiu como se fosse o vilão de Avatar. Para quem não viu o filme, uma breve explicação: o enredo trata de uma tentativa de exploração econômica de uma lua – Pandora - onde os habitantes nativos vivem em absoluta harmonia com o ambiente. E tal exploração econômica significaria a destruição daquele modo de vida de total pureza e equilíbrio. Mais ou menos o que os críticos diziam que o estaleiro faria com o Titanzinho – descontada a hipérbole ficcional.


O governador devia se enxergar particularmente no trecho em que o dito vilão diz que, em Pandora, não se pode jogar um graveto para o alto sem que ele caia em algum pedaço sagrado de terra. O governador deve se ver assim em relação às terras indígenas, que lhe empataram e empatam tantos empreendimentos.


Mais que nunca, o governador deve se sentir como o vilão de Avatar. Quando anunciou o novo secretariado, no fim de dezembro, Cid fez críticas à sua área ambiental como a nenhuma outra. Foi uma manifestação que parecia sinalizar para a compreensão dos
problemas na área.


Mas a perspectiva a que se referia ao discursar sobre as dificuldades do Governo do Estado em relação ao meio ambiente mostrou-se bem específica – visão, a propósito, mais comum entre
os governantes.


Pelos atos imediatamente posteriores, ficou claro que, para ele, o problema maior não era a falta de políticas ambientais, mas o atraso nas obras provocado pelos inconvenientes órgãos ambientais responsáveis pelo licenciamento, esses chatos!


Simplificar e desburocratizar os procedimentos de licenciamento é bom. Dar velocidade às obras é ótimo – e o contribuinte exige isso, com razão. Mas foi-se o tempo em que tudo isso podia ser feito sem rigor absoluto em relação ao cálculo dos impactos ambientais.

ÉRICO FIRMO
http://www.opovo.com.br/app/colunas/menupolitico/2011/01/22/noticiamenupolitico,2092127/pandora-e-aqui.shtml

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